A relação entre o café especial e o açúcar
Muito se fala em relação a colocar açúcar no café especial. Aqui vamos apresentar alguns caminhos sem nos prender a conceitos de “certo” ou “errado” para que você possa testar pessoalmente as suas opções e escolher como deseja percorrer a sua jornada de sabores.
Para entender a necessidade que o brasileiro tem de colocar açúcar no café, é necessário entender de onde vem esse hábito, seu contexto histórico e outros fatores de influência.
Na questão da necessidade de adoçar a bebida, você pode escolher se prefere adoçar ou não. Não se sinta na obrigação de abandonar o açúcar por ver baristas dizerem que não se deve adoçar o café especial.
Ao final, vamos propor um método infalível para você descobrir se deve adoçar seu cafezinho, acompanhe:
1) O Balanço do Sabor Amargo com o Açúcar
Quando comparamos visualmente os cafés tradicionais torrados com os especiais, é fácil notar a diferença na cor. Os tradicionais são mais escuros e sua bebida é mais amarga. Isso se deve ao fato de que cafés tradicionais são vendidos com torras escuras, geralmente ao lado do café extra forte.
Em outro texto já fizemos um comparativo entre o balanço de sabores do doce com o azedo ao comparar os sabores do limão e da mexerica, do mesmo modo, para balancear o amargor intenso de cafés escuros, adquirimos a necessidade de adicionar açúcar.
Vale lembrar também que nós brasileiros(as) somos ensinados(as) a corrigir sabores que são percebidos como ruins adicionando açúcar. Isso se tornou algo demasiado comum a ponto de algumas pessoas chegarem a perder a capacidade de separar o amargo do azedo por estarem sempre encobertos pelo sabor doce.
Quando pensamos em alimentos ácidos (azedos) como abacaxi, morango e até o rejeitado limão, a reação mais comum é pensar: Vou fazer um suco e colocar açúcar!
Imagine a cena de uma pessoa que nunca provou cafés de torra média, ou clara, bebendo pela primeira vez um espresso com um café de torra média e acidez cítrica (a mais comum) marcante. Se você viu essa pessoa torcendo o nariz, você tem uma imaginação bem alinhada com a realidade.
Agora vamos falar um pouco sobre o amargor, você já viu uma mãe dar para a sua filha uma salada de agrião e rúcula? É uma cena difícil de ver, apesar de que esses alimentos devem ser introduzidos desde cedo na nossa alimentação.
Não é de se estranhar que o amargor do café sugerisse de modo natural a adição do açúcar, nós somos ensinados(as) desde crianças a adorar o sabor doce.
Até aqui já é possível entender a razão de colocar açúcar no café de torra escura (amargor), mas qual a razão de se utilizar uma torra agressiva nos grãos a ponto de prejudicar o sabor? A resposta está no contexto histórico do café comercial brasileiro, que você encontra no próximo tópico.
Mas não se engane, existem cafés especiais de torras escuras sim! Certos grãos do continente africano aceitam torras escuras sem perder as notas florais, ou frutadas. Isso é praticamente impossível aqui no Brasil, já que as condições de clima não permitem a formação de um grão tão resistente a torra escura.
Você também pode encontrar cafés especiais brasileiros com torras escuras, isso não significa que o grão aceita esse nível de torra sem desenvolver amargor intenso, isso se deve à demanda dos clientes pela expectativa de um café especial que seja semelhante ao café que eles já conhecem do dia-a-dia, tanto na aparência (cor/cheiro/moagem), quanto no sabor. Onde existe demanda, existe um fornecedor.
2) O Contexto Histórico do Café Comercial Brasileiro
Para amenizar as crises frequentes do mercado de exportação e preços descontrolados do café foi criado em 1962 o Acordo Internacional do Café. Esse acordo inicial também marca o nascimento da Organização Internacional do Café (OIC, ou ICO na sigla original).
O Acordo tinha como objetivo controlar os preços do café e colocava limites de exportação para as nações produtoras. Desse modo, o café exportado era vendido por preço maior, mas sobravam os grãos (ou fragmentos de grãos) de baixa qualidade que não poderiam ser exportados.
Você já deve ter escutado que o café que fica no Brasil é o de pior qualidade. Isso não é verdade agora, mas foi uma realidade durante muitos anos da nossa história. Todo o café que era considerado de baixa qualidade e não podia ser exportado, ficava retido no país.
O governo brasileiro iniciou uma série de projetos para tentar aumentar o consumo interno de todo esse café que sobrava. Para encobrir o gosto ruim, os grãos eram torrados além do necessário e essa prática veio a gerar o que conhecemos como o atual café tradicional e também o café extra forte, geralmente preparados com muito açúcar para encobrir o amargor.
O governo brasileiro, mais uma vez, tentou incentivar o consumo desse café colocando limites no preço final. Toda essa limitação gerou uma concorrência desleal que favorecia a venda do café mais barato e de pior qualidade que durante anos foi vendido ao brasileiro e ficou marcado em sua mente como “café é tudo igual”.
Essa explicação foi um resumo rápido do que aconteceu com o café torrado no Brasil, mas já é o suficiente para entender que o empenho do nosso governo para equilibrar a situação financeira gerou uma crise na qualidade do café da qual sentimos as sequelas até hoje, sendo a torra escura exageradamente amarga e a necessidade de adicionar muito açúcar consequências diretas.
3) A Nossa Proposta para Você, que Ainda Não se Decidiu Sobre o Açúcar
O que vamos propor aqui é um exemplo prático de como você, no conforto da sua casa, pode testar por conta própria para se decidir se precisa adoçar seu cafezinho.
O experimento consiste no preparo de duas garrafas de cafés distintos:
Na garrafa 1 você deve preparar o café especial (sem adoçar)
Na garrafa 2 você deve preparar o café tradicional (sem adoçar)
Cada prova de café terá duas xícaras para comparação.
Caso 1 – Experimentando o café sem açúcar:
Na xícara 1 você deve adicionar o café especial e provar sem açúcar.
Na xícara 2 você deve adicionar o café tradicional e provar sem açúcar.
O que é esperado aqui é que você seja capaz de identificar como o amargor das duas bebidas é diferente. Atenção: A ordem importa! Você deve experimentar o Café Especial antes!
Caso 2 – Com açúcar reduzido:
Na xícara 1 você deve adicionar o café especial e uma quantidade reduzida de açúcar.
Na xícara 2 você deve adicionar o café tradicional e uma quantidade reduzida de açúcar.
O que é esperado aqui é que você consiga notar o sabor do café especial com uma quantidade baixa de açúcar e o gosto do café tradicional com essa mesma quantidade reduzida de açúcar, em relação ao que você já usa no seu dia-a-dia.
Caso 3 – Com açúcar total:
Na xícara 1 você deve adicionar o café especial e a quantidade de açúcar que você usa no tradicional no seu dia-a-dia.
Na xícara 2 você deve adicionar o café tradicional e a quantidade de açúcar que você está acostumado(a).
Aqui é esperado que você perceba a mudança de sabor no café especial, ele fica estranho e parece mais doce que o tradicional, desbalanceado em relação a quantidade de açúcar. Se você notou isso, é sinal de que pode sim começar a tomar café especial com uma quantidade reduzida de açúcar, ou mesmo sem açúcar se gostar.
Ao beber o café tradicional com açúcar e o café especial com a mesma quantidade de açúcar, sentiremos na boca que o café especial não fica bom com tanto açúcar, ao passo que o café tradicional vai ter o gosto que estamos acostumados.
Desse modo, a relação custo-benefício do café especial com o açúcar se dá na área da saúde. Substituir alimentos açucarados por alimentos com menor teor de açúcar faz bem para a saúde, pode ser consumido tranquilamente por diabéticos (em relação à dieta de diminuição de açúcar) e ajuda a evitar que essa doença apareça.
Agora queremos saber a sua opinião, experimentou a nossa proposta de provar os cafés com menor quantidade de açúcar? Conta pra gente nos comentários!
Abraços cafeinados!
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4) Caso você tenha perdido algum post da nossa série “O que são Cafés Especiais?”
A nossa série “O que são Cafés Especiais?” é uma coletânea de posts em nosso blog explicando as diferenças, qualidades e os diversos benefícios desses cafés de qualidade, confira: